Americanos são os maiores produtores mundiais de milho.
Quantidade de produtos que têm o grão como ingrediente impressiona.
Há quem diga que, se o DNA dos norte-americanos passar por uma análise, o milho estará ali, marcado nos genes.
Num passeio pelo supermercado, dá pra entender porquê. Não é só o milho em si que entra no cardápio, o grão está em muitos produtos, basta olhar a composição. Refrigerante tem xarope de milho, no bolo de chocolate tem amido de milho. O grão está presente na cerveja, no catchup, na comida do cachorro e até na maquiagem. E em produtos ainda mais inusitados como carvão, produtos de limpeza, antibióticos e fogos de artifício.
E sempre pode aparecer um novo uso, já que o milho é uma das plantas mais estudadas do mundo.
Pesquisas estão em andamento na Universidade Estadual de Iowa, na cidade de Ames. No edifício de Ciências dos Alimentos, o cientista Lawrence Johnson deu um passo além do laboratório e criou uma mini-fábrica. “Nós queremos ser capazes de produzir tudo o que se pode fazer com milho e soja. Quase tudo que podemos fazer com o petróleo, podemos fazer com o milho também. Podemos fazer a maioria dos químicos que vêm do petróleo e usar para comida, para alimentar o rebanho... Provavelmente é a cultura que tem mais usos”.
Mas será que há milho suficiente para tudo isso? Andando pelas estradas, parece que sim. O estado de Iowa é o maior produtor nacional, responsável por quase 1/5 de toda a safra americana.
Enquanto os agricultores brasileiros colhem duas safras de milho por ano, nos Estados Unidos, a safra é única, mas tem alta produtividade.
A lavoura brasileira rendeu em 2011 perto de 57 milhões toneladas de milho. Nos Estados Unidos, só o estado de Iowa produziu mais que isso: quase 60 milhões de toneladas em uma área que corresponde a menos da metade da área cultivada no Brasil.
Na Cooperativa de Agricultores de Greene, o trabalho não para nem aos domingos, caminhões chegam carregados de grãos a todo momento.
A capacidade total de armazenamento é de 33 mil toneladas e até o final da colheita, a cooperativa espera a produtividade de cerca de 100 fazendas da região.
O local onde está instalada é estratégico, a cooperativa fica bem ao lado da ferrovia para escoamento fácil da safra. A maioria do milho vai para usinas de etanol.
Se compararmos o rendimento do milho e da cana, a cana ganha de longe. Enquanto o etanol produzido no Brasil rende cerca de sete mil litros por hectare de cana plantado, o etanol de milho tem rendimento de 3.600 litros por hectare.
O processamento do milho também gera gás carbônico, que será usado no congelamento de alimentos e na fabricação de refrigerantes e óleo para ração animal.
Um dos argumentos de defesa de produtores de milho e de etanol na discussão em torno do desvio dos grãos para a produção de combustível é o chamado DDGS, dried distillers grains with solubles. É a parte sólida do grão de milho, vendida como ração.
Há 10 anos, 7,5% do milho produzido nos Estados Unidos ia para as indústrias de etanol, hoje são 40%. Ao longo desses anos a produção de milho cresceu, mas não tanto quanto a demanda das usinas. O resultado é que cada vez sobra menos milho para a fabricação de outros produtos como alimentos e ração.
Em 1917, um pôster do arquivo da biblioteca do Congresso Americano trazia um recado enfático do Tio Sam: “Economize semente de milho agora. Há uma alarmante escassez”.
Quase um século depois, uma nova luz vermelha começa a piscar. Dados do Ministério da Agricultura americano mostram que o estoque de milho no país vem caindo ano a ano.
Na Associação dos Produtores de Milho de Iowa, o executivo-chefe, Craig Floss, diz que não acredita em falta de produto no mercado. “O que as pessoas não olham é que nós aumentamos a capacidade de cultivar milho. Há 10 anos, nós podíamos colher cerca de 200 milhões de toneladas de milho e hoje estamos cultivando cerca de 300 milhões de toneladas. Nossos estoques estão mais apertados, mas ainda somos capazes de suprir o mercado porque nós tínhamos uma quantidade muito grande de milho extra”, justifica.
Com uma área plantada de 140 milhões de hectares cultivados nos Estados Unidos, não há mais espaço para novos plantios. A produção de milho só pode aumentar com áreas migrando de outras culturas e aumento de produtividade.
Mas o que falam sobre isso os representantes do governo americano? Confira o vídeo com a reportagem completa e a entrevista com o economista-chefe do Ministério da Agricultura, Joseph Glauber, que fala sobre a polêmica do desvio do milho da indústria de alimentos para a produção de etanol.
Fonte: http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2012/04/desvio-do-milho-para-producao-de-combustivel-divide-opinioes-nos-eua.html