terça-feira, 18 de outubro de 2011

Mundo recorre à soja brasileira

Quebra de safra e atrasos nas vendas externas norte-americanas abrem espaço para o Brasil ampliar em 6,5 milhões de toneladas sua participação no comércio exterior e seguir rumo à liderança mundial
Daniel Castellano/Gazeta do Povo / Com expectativa de mais uma colheita recorde, Brasil segue rumo ao topo das exportações mundiais na safra 2011/12
Com expectativa de mais uma colheita recorde, Brasil segue rumo ao topo das exportações mundiais na safra 2011/12



A quebra da safra norte-americana de grãos está dando ao Brasil oportunidade única de ampliar seu espaço no mercado internacional de soja nesta temporada. Com um salto em exportações projetado em 6,5 milhões de toneladas sobre o ano passado, o país segue rumo à liderança no fornecimento mundial do grão.

Em seu último relatório de oferta e demanda, divulgado semana passada, o Departa­­mento de Agricultura norte-americano reconheceu que vai deixar de embarcar pelo menos 3,4 milhões de toneladas até o fim do ano comercial, previsto para agosto de 2012. Com isso, as vendas externas do país caem para 37,4 milhões de toneladas, número muito próximo ao projetado para o Brasil, que ficará responsável por enviar 36,5 milhões de toneladas de soja para o mundo. “Nossas exportações [de soja] não andam bem. São as menores desde a safra 2002/03”, resume Don Roose, analista de mercado da consultoria Commodities, de Des Moines (Iowa). Ele lembra que o consumo interno norte-americano, por outro lado, vai muito bem, e que recompor os estoques do país não vai ser uma tarefa fácil. “A pecuária, que é o setor que mais consome milho nos Estados Unidos, está em boa forma, o de suínos tem a rentabilidade mais alta desde 2006, a indústria de etanol está lucrando US$ 0,25 por galão e a de biodiesel US$ 1/galão. Se não conseguimos frear a demanda quando as cotações estavam elevadas, até o mês passado, não vai nesses níveis atuais de preço que vamos conseguir.”

Embora evolua a passos largos com o plantio da safra de verão, o Brasil tende a colher mais uma safra recorde neste ano. Em 2010, mais de 75 milhões de toneladas de soja saíram dos campos e, para este ano, a primeira estimativa da Com­panhia Nacional de Abas­tecimento (Conab), já aponta que o país tem potencial para produzir pelo menos 73 milhões de toneladas. Para o analista de mercado da Cerealpar, Steve Cachia, essa expectativa de aumento da produção nacional é que garante aos países consumidores o abastecimento do grão. Ele explica que o grande salto deste ano é atribuído principalmente à redução da safra dos Estados Unidos, mas que o ganho de mercado por parte do Brasil é certo nos próximos anos. “A tendência é que o Brasil aumente seu market share ao longo dos anos, por força da demanda internacional”, ressalta.

Mesmo com uma desaceleração observada nas compras da China, maior consumidora de soja do mundo, o analista espera que o cenário é positivo. “A redução das importações chinesas é um fato pontual, não uma tendência. Sobre o impacto do esfriamento das vendas externas norte-americanos nos preços futuros dos grãos, Cachia acredita ainda que o mercado continuará sendo balizado pela situação da economia mundial. O analista norte-americano Jack Scoville, da Price Futures Group, de Chicago, enxerga um cenário de maiores oscilações nas cotações. “Como a safra começou atrasada para nós (norte-americanos), vamos ter que disputar mercado com vocês [Brasil] no final deste ano e início do próximo. Meu conselho para o produtor, então, é: se a soja se aproximar de US$ 13 por bushel, trave, porque estará vendendo no pico”, recomenda Jack Scoville, analista do Price Fu­­­tures Group, de Chicago, Il­­­linois.

Ao contrário do que se prevê para este ano, os Estados Unidos embarcaram, em 2010/11, 40,8 milhões de toneladas. O Brasil, por sua vez, enviou cerca de 30 milhões de toneladas ao cenário no mesmo ano. Pelo menos metade de todo esse volume exportado teve a China como destino.


Hugo Harada/Gazeta do Povo / Robson Paloschi e Antonio Rizzardi, de Cruz Alta (RS) já  venderam 40% da lavoura de soja, que ainda nem foi plantada

Robson Paloschi e Antonio Rizzardi, de Cruz Alta (RS) já venderam 40% da lavoura de soja, que ainda nem foi plantada

Venda antecipada chega a 30% no país

A alta no preço internacional da soja, principalmente em função da redução da safra norte-americana e do aumento da demanda mundial, levou os produtores brasileiros a fechar parcela significativa da produção antes mesmo do plantio da safra de verão 2011/12. Especialistas ouvidos pela reportagem calcularam que pelo menos 30% da produção nacional estão com destino certo, o equivalente a 22 milhões de toneladas de um total de 73 milhões de toneladas previstos para este ano. O índice atual ultrapassa até mesmo o da safra 2007/08, quando a oleaginosa atingiu o maior valor da história da Bolsa de Chicago, mais de US$ 16 por bushel (27,2 quilos). “Neste ano, o preço motivou os produtores a fechar mais contratos antecipados do que em 2010, quando a soja também exibia preços convidativos”, afirma o técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e professor da UFPR, Eugênio Ste­­­fanelo.

No Mato Grosso, estado com tradição nesta forma de negócio, 48% da safra de soja já estão comercializados, 12% maior que o índice do ano passado (36%), aponta levantamento do Ins­­­tituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). A consultoria Safras e Mercado, de Porto Alegre (RS) confirma que um terço da produção nacional foram vendidos até o momento. Para o Mato Grosso, a consultoria projeta comercialização de 42%, mesmo número do ano passado. “Além do preço alto, o dólar no Brasil deu suporte para as cotações internas e também contribuiu com essa antecipação das vendas”, explica o analista do mercado de soja, Adriano Machado.

Sul

Nos estados da região Sul, onde a venda antecipada não é tão forte como no Centro-Oeste, os índices também apresentam crescimento. No Rio Grande do Sul, onde ao menos 20% da soja já foram vendidos, o que atraiu os produtores foram cotações de R$ 48 por saca. Os produtores Robson Paloschi e Antônio José Rizzardi, que plantam 1.210 hectares da oleaginosa no município gaúcho de Cruz Alta, conseguiram aproveitar o momento em que a cotação estava a R$ 50,20 para vender 40% da produção. Nesta mesma época do ano passado, haviam comercializado apenas 20% e, no final das contas, fizeram média de R$ 44,20 por saca. Conhecidos por vender a produção somente após a colheita, os produtores paranaenses também entraram na onda da venda antecipada nesta safra. A estimativa do mercado é que pelo menos 25% do volume a ser colhido pelo estado já foram comprometidos até agora. A Secretária de Estado da Agricultura e do Abastecimento revela porcentual mais conservador: 18%.

Carlos Guimarães Filho e José Rocher


Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/caminhosdocampo/conteudo.phtml?tl=1&id=1181626&tit=Mundo-recorre-a-soja-brasileira

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