Quando o trabalho se torna um fardo e a insatisfação, uma rotina, está na hora de rever as metas profissionais em prol da saúde.
Lutar ou correr. Diante de situações de estresse, nós, seres humanos, fisiologicamente, temos como escapatória essas duas opções. Mas já há muito tempo o Homo sapiens moderno encontra-se impedido de realizar quaisquer delas. As novas relações sociais e econômicas impuseram outras formas de lidar com as situações em que o corpo e a mente sentem os reflexos de uma rotina desequilibrada de trabalho, nos mostrando que é possível fugir do estresse da ocupação, sem que para isso seja preciso sair dela.
“O trabalho hoje oferece poucos riscos físicos, embora ainda haja casos, mas exige muito da capacidade cognitiva do trabalhador.” Lys Esther Rocha, professora da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e especialista em saúde ocupacional traça essa evolução, evidenciando que, com o novo cenário das relações de trabalho, é a saúde mental do trabalhador que surge como uma preocupação à medicina. “Hoje o ato de trabalhar é mais intenso e exige coisas muito além da nossa capacidade. Isso gera um quadro de estresse”, completa a professora.
De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), 30% dos trabalhadores têm transtornos mentais menores e cerca de 5% a 10% possuem transtornos mentais graves. As perturbações psíquicas desenvolvidas no trabalho, afirma Lys, podem gerar quadros de saúde complexos que se refletem não só na mente, mas também no corpo.
Quando a insatisfação profissional e o cansaço persistem por muito tempo, o trabalhador pode desenvolver um quadro clínico chamado de Síndrome de Burnout.
“Acontece quando há um esgotamento físico, uma fadiga, uma despersonalização e um desgaste emocional persistente na rotina do trabalhador”, alerta a professora. Em outras situações, a depressão pode surgir como reflexo de um ambiente profissional exigente: “Quando o indivíduo não consegue alcançar suas metas e por isso se sente incapaz, ele pode ficar deprimido”, esclarece a professora.
Em áreas violentas, como São Paulo, outra situação que ameaça a saúde do trabalhador é o estresse pós-traumático. Lys relata que “alguns profissionais como vigias e motoristas podem sofrer algum tipo de violência, como um assalto, e ao retornarem ao seu serviço, acabam desenvolvendo taquicardia ou ‘suam frio’. Logo após o episódio, isso é considerado normal, mas se após aproximadamente seis meses o trabalhador ainda tiver essas reações, ele pode apresentar o transtorno”.
Há maneiras, porém, de preservar a saúde da mente e do corpo diante do estresse da ocupação. A professora destaca atitudes simples que podem ser tomadas, tanto no ambiente profissional, quanto na vida pessoal e que mantêm em consonância as funções cognitivas e a ocupação no trabalho.
“É preciso se organizar e pensar: até aonde eu quero chegar?”. Muitos trabalhadores, por aspirações econômicas elevadas, acabam exigindo de si mesmos esforços que vão muito além da própria personalidade. Lys destaca que a palavra-chave nessa hora deve ser “equilíbrio”. Conciliar a própria capacidade de trabalho com seus limites pode restringir o sonho de se tornar o presidente da empresa, por exemplo, mas poupa mente e corpo de situações estressantes. “É importante pensar na vida como um todo e ter autoconhecimento”, ela completa. No ambiente de trabalho, se houver liberdade, deve-se rever as metas de produtividade com toda equipe.
Atividades físicas são fundamentais. Apesar do discurso “faça exercícios” parecer clichê, quando se trata de conselhos para a saúde, Lys explica a situação: “Aquela nossa reação de correr ou lutar ainda está em nosso organismo. Por isso, os exercícios físicos nos ajudam, fisiologicamente, a liberar as tensões”.
Por último, ela aconselha: “Tenha tempo de lazer”. Atividades culturais, artísticas e emoções positivas distraem a mente das exigências do trabalho e auxiliam a relaxar. Privilegiar o trabalho na vida não é uma solução saudável: “Pense na vida como um todo, saiba equilibrar os lados”, ressalta a professora.
Por Por Isabela Morais. Agência USP de Notícias.
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