Cleide Rodrigues, do BB Mapfre, diz que colaborador tranquilo é mais produtivo
A morte de um parente, as complicações de um divórcio ou o mau rendimento de um filho na escola são problemas com os quais todos estão sujeitos a conviver. O difícil é não carregar tais preocupações para o local de trabalho.
Para auxiliar os colaboradores nesses momentos de crise que acabam comprometendo a produtividade, cada vez mais empresas no país estão buscando formas de auxiliar os funcionários nesses momentos.
Um dos serviços que tem se popularizado entre as companhias é o chamado Programa de Apoio Pessoal (PAP). Nele, uma equipe multidisciplinar com psicólogos, assistentes sociais, advogados, entre outros, ficam à disposição dos funcionários para ajudar a resolver desde questões conjugais até a perda de uma casa na enchente.
"O colaborador que está com um conflito pessoal perde o foco no trabalho", afirma Eliana Audi, diretora da Auster, que oferece atualmente atendimento para 1 milhão de pessoas em 97 empresas no território nacional.
O call center recebe mais de 48 mil ligações por mês, sendo que a maior procura é por assistentes sociais e psicólogos. Em seguida, vêm os serviços de nutrição, jurídico e de personal trainer.
Segundo Eliana, o aumento da procura pelo benefício se justifica pela maior consciência sobre a qualidade de vida. Além disso, o ingresso da mulher no mercado de trabalho exige um grande esforço por parte delas no equilibrio entre a carreira e as tarefas do dia a dia.
Até problemas corriqueiros como pagar dívidas ou multas de trânsito podem afetar o desempenho no trabalho. Uma pesquisa conduzida pela MetLife nos Estados Unidos, por exemplo, revela que os americanos gastam, em média, três horas semanais do expediente para resolver problemas legais. "É um problema mundial. Quanto mais você evolui na carreira, mais terá conflitos com a vida pessoal", afirma Marcelo Santos, diretor da doers, consultoria de gestão de recursos humanos.
Segundo Cleide Rodrigues, diretora executiva de RH do grupo BB Mapfre, que oferece assessoria aos seus funcionários através do PAP, no caso de uma pendência jurídica, por exemplo, uma simples orientação telefônica pode ajudar.
"Nem sempre temos a quem recorrer para esclarecer nossas dúvidas", diz Marita Bernhoeft, diretora de RH da BM&FBovespa, que contratou a assistência há pouco mais de um ano. O programa está inserido no guarda-chuva de qualidade de vida. Em 2010, foram 2.780 ligações, o que corresponde a 1,8 atendimento por funcionário da Bolsa ao ano.
O processo é sigiloso e o RH do cliente não sabe quem ligou nem o motivo - recebe apenas as estatísticas. Segundo Cleide, trata-se de um bom investimento no colaborador. "Queremos um ambiente diferenciado, que seja a segunda casa de cada um". A empresa aderiu ao serviço há oito anos.
Na maioria das vezes, o contato parte do empregado, mas há casos em que o próprio PAP é solicitado a iniciar a conversa. "Podemos tomar a iniciativa se percebemos que alguém está muito preocupado ou triste", diz Cleide. Quando um desligamento é complicado, por exemplo, o RH pede para que o PAP ligue, em seguida, para o ex-colaborador.
Em crises maiores, o contato ocorre em grande escala. Os 23 funcionários da agência do HSBC de Teresópolis, na serra fluminense, receberam ligação do PAP um dia após a enchente que arrasou a região. A agência não foi atingida, mas a maioria dos trabalhadores foi afetada direta ou indiretamente pelo desastre. João Luiz Costa, gerente titular da agência, conta que, entre os colaboradores, uma pessoa perdeu a casa, outra teve que abrigar a família por duas semanas e uma terceira ficou ilhada, sem comunicação, durante uma semana. O PAP ligou para todos diariamente por quase um mês.
O programa levantou as perdas de cada um e uma psicóloga passou uma semana prestando amparo emocional no local. A partir das necessidades identificadas pelo serviço, o banco entrou com auxílio material. "A agência voltou à normalidade em dez dias. O principal foi o apoio moral", diz Costa.
Conforme pesquisa realizada pela Watson Wyatt (atual Towers Watson) com 168 empresas de diversos segmentos no país, 27% delas proporcionavam o benefício em 2008. Dessas, 76% estendiam o benefício aos familiares. "O problema do funcionário pode não ser exatamente com ele, mas afeta seus entes queridos", diz Eliana.
Além de melhorar a produtividade, as companhias estão de olho na valorização dos profissionais. Santos, da doers, destaca a importância de um líder perceber que os problemas individuais fazem parte da vida e de estar preparado para enfrentar essas situações. "A empresa não pode achar que a vida pessoal do funcionário não tem nada a ver com a profissional."
Coordenadores de recursos humanos de companhias que oferecem o serviço dizem que não é possível mensurar o retorno do programa para a produtividade e o clima organizacional, mas afirmam que os feedbacks positivos dos funcionários e as estatísticas de atendimento comprovam o seu sucesso. "Na hora de implementar o programa, o que mais pesou foi a crença de que as questões pessoais interferem de forma direta no trabalho", diz Vera Saicali, diretora executiva de RH do HSBC. O banco passou a oferecer o benefício em 2005. "Quanto mais tranquilo o colaborador estiver, mais ele vai dar para a empresa", diz Cleide, do grupo BB Mapfre.
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